sábado, 28 de julho de 2012

Esquizofrenia em crianças e adolescentes


Esquizofrenia em crianças e adolescentes



A esquizofrenia pode ser conceituada como um transtorno do neurodesenvolvimento associado a déficits na cognição, afeto e funcionamento social.
A esquizofrenia infantil é definida como o aparecimento de sintomas psicóticos específicos e prejuízos nas funções adaptativas antes dos 13 anos de idade. Alguns autores denominam a patologia com surgimento nessa faixa etária de esquizofrenia de início muito precoce (Very Early-Onset Schizophrenia – VEOS). Já, quando sua ocorrência se dá na adolescência (entre 13 e 17 anos), é nomeada esquizofrenia de início precoce (Early-Onset Schizophrenia – EOS).
A dificuldade em se diagnosticar esquizofrenia na infância e na adolescência já se inicia no processo de avaliação.
O pensamento infantil é rico em fantasias e crenças mágicas, que preponderam sobre o pensamento lógico.
Na fase da adolescência, encontramos uma “certa desestruturação” psíquica, considerada por alguns autores como “fisiológica”. Quadros esquizofrênicos podem vir associados a retardo mental ou a outros transtornos do desenvolvimento, a sintomas afetivos ou a sintomas de autismo, o que implica uma maior heterogeneidade psicopatológica e complexidade diagnóstica.
Existe um grupo de crianças que apresentam sintomas psicóticos breves, com déficits da atenção e das habilidades sociais, aliados a alterações da estrutura cerebral e respostas a testes neuropsicológicos semelhantes às de pacientes esquizofrênicos, e que têm história familiar de parentes em 1º grau com transtorno do espectro esquizofrênico. Kumra (2000) avaliou esses pacientes, identificando-os como portadores do que foi chamado de Síndrome de Prejuízo Multidimensional. De acordo com esses autores, grandes evidências sugerem tratar-se de um quadro pertencente ao espectro da esquizofrenia infantil.
Pelo exposto, pode-se perceber que prudência e observação a médio ou longo prazo são imprescindíveis para se concluir pelo diagnóstico de esquizofrenia, o que não significa deixar de introduzir a terapêutica adequada o mais precocemente possível, evitando-se, por meio de medidas terapêuticas, seqüelas e cronificação.
Quanto à prevalência de transtornos psicóticos em crianças e adolescentes, encontram-se valores de aproximadamente 1% em amostras comunitárias. Dados em relação à esquizofrenia infantil são bastante limitados. O início dessa patologia na infância é considerado raro, estimando-se uma prevalência 50 vezes menor do que em adultos. Na série de casos de Kolvin (1971), foi notado que o autismo era 1,4 vezes mais comum do que a esquizofrenia infantil.
Quanto ao sexo, os valores variam de acordo com os estudos; estes apontam desde razões que indicam ligeira predominância masculina (1,5 a 2 para 1) a razões essencialmente iguais entre os sexos. Em relação aos níveis de inteligência há indícios de que a maior parte das crianças esquizofrênicas se encontra nas faixas de inteligência média-baixa e média, sendo elas provenientes de populações com menor poder aquisitivo e com história familiar positiva para a doença.


Alucinações


As alucinações auditivas são as mais comuns e, entre estas, as vozes imperativas e de caráter persecutório aparecem com maior freqüência. Outras modalidades podem ocorrer, tais como alucinações visuais, olfativas, gustativas, táteis e cenestésicas.
Alguns jovens e crianças maiores poderão omitir conscientemente suas vivências alucinatórias, enquanto crianças menores poderão não revelá-las por não as perceber como fenômenos anormais
Sinais comportamentais que sugerem a presença de alucinações são: solilóquios, risos imotivados, cobrir os ouvidos, parecer alheio ao ambiente ou olhar ao redor atento a “algo”, bater na cabeça ou com a cabeça na parede, por exemplo.
Alguns estudos demonstram que o mais freqüente sintoma psicótico em crianças e adolescentes é a alucinação auditiva, sendo percebida pela criança menor como “vozes vindas de dentro da cabeça” e pelo adolescente como “vindas de fora da cabeça”.


Delírios


São sintomas pouco freqüentes em crianças, talvez pela imaturidade cognitiva ou pela baixa incidência de esquizofrenia nessa faixa etária. Os mais comuns são os delírios de referência, de perseguição ou de que as pessoas podem ler suas mentes.
A temática, de um modo geral, está ligada às atividades e às preocupações do mundo da criança (monstros, fantasmas, animais) e do adolescente (imagem corporal, identidade sexual etc.). Quanto maior a idade, mais complexos e elaborados são os delírios.


Alterações na forma ou curso do pensamento
A avaliação dessas desordens na criança menor é difícil.
Em crianças mais velhas ou maiores de 7 anos, são comuns: afrouxamento das associações, fragmentação, incoerência e bloqueio do pensamento e pensamento ilógico ou bizarro.


Linguagem e fala


Quanto aos aspectos de linguagem, descreve-se o empobrecimento do vocabulário já adquirido, o comprometimento da modulação da fala, a ecolalia e o uso idiossincrásico das palavras, dando-lhes um significado hermético ou ilógico.


Comportamento / Motricidade


São freqüentes: comportamento desorganizado e inadequado, inquietação, falta de espontaneidade e iniciativa, isolamento, descuido com a aparência e com a higiene, maneirismos e trejeitos faciais e corporais.
Condutas impulsivas enigmáticas como automutilação, desnudar-se em locais inapropriados e tentativas de suicídio ou homicídio podem ocorrer.


Alteração do esquema corporal


Pode ser melhor evidenciada por meio de técnicas que utilizem desenhos, modelagem (com massas ou argila), jogos e brinquedos.
Observam-se objetos deformados, figuras humanas estranhas, fragmentadas ou bizarras. Há tendência a apresentar maneirismos e/ou padrões repetitivos de conduta.
A expressão do afeto pode parecer vazia ou estranha.


Afeto


Aparecem distanciamento emocional, redução ou achatamento do tônus afetivo, inadequação e incongruência ou ambivalência.


Humor
São comuns as alterações de humor (depressivo, eufórico, irritadiço ou disfórico) ou descargas emocionais numa psicose esquizofrênica incipiente na infância e na adolescência, o que pode confundir o seu diagnóstico com o de transtornos afetivos.



Nenhum comentário:

Postar um comentário